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Abstract(s)
Praticamente, todos os actuais centros de romarias ou grandes feiras (que
muitas vezes coincidem nos mesmos dias e nas mesmas terras) e que hoje se
procuram integrar no chamado turismo religioso (ou simplesmente no roteiro
turístico), têm geralmente um passado longínquo. Alguns desses locais mantiveram
até à actualidade a sua existência ainda que outros se tenham perdido e mesmo
apagado, relegados para meras referências e vivências paroquiais. A evolução da
religiosidade entre as gentes e do sentimento religioso e devocional, muito para isso
contribuiu sendo seguro que a secularização verificada por todo o lado e também
pelo Entre Douro e Minho particularmente acentuada, sobretudo, com a segunda
metade do século XVIII, também muito para isso veio a contribuir.
Os locais e centros de romagem e festa foram no passado a quase única
oportunidade de folguedos, verdadeira catarsis para a vida penosa do quotidiano
e, por isso, tiveram nesse passado, uma presença e uma importância muito mais
activa e importante do que na actualidade, em que as oportunidades de diversão e
de ocupação dos tempos livres (conceito e realidade que no passado nem sequer
existiam) têm outra dimensão tal como os momentos e circunstâncias do dirimir
de conflitos e tensões sociais se transportaram (ou se tendem a transportar) para
outros cenários e outros parâmetros.
Procura-se hoje, perante a realidade económica e do que representa o Turismo,
reabilitar, reactivar e reconstituir esses locais integrando-os, de plena actualidade,
com aqueles que, porventura, se apagaram e que hoje dentro dessa mesma realidade
da fruição turística, todos procuram activar conscientes da importância económica
e social de quem procura e de quem pode oferecer ou propor esses itinerários,
agora, dentro de uma perspectiva histórico-cultural integrando economia, cultura e
sociedade. Também como factor de desenvolvimento, em algumas circunstâncias
de efectiva subsistência, de muitas comunidades, que vêm perdendo aceleradamente
a importância das suas actividades tradicionais, essencialmente ligadas
ao sector primário e, às vezes, também, diga-se, ao secundário por modesto que
tenha sido. Aqui, a arqueologia industrial, tem prestado inestimáveis contributos.
Têm-se explorado, pois, nos últimos tempos, esta vertente do Turismo religioso
e histórico-cultural, que teve em Braga ou a partir de Braga iniciativa pioneira
com a criação da Turel – Turismo Cultural e Religioso de iniciativa do Rev.do
Cónego Eduardo Melo Peixoto a quem, com esta modesta intervenção, se presta
homenagem. Por outro lado, a generalidade destes centros, Ermidas, Capelas ou
Santuários implantaram-se em locais de inegável beleza física. A fruição panorâmica,
hoje também, um quesito indispensável ou apetecível para a fruição turística
do território e da paisagem. Nos tempos passados não teve essencialmente essa
principal preocupação, ainda que ela tivesse vindo a avultar entre as exigências
do Viajante (ou turista) da altura que percorria o território ou certas regiões desse
território. O Século XIX com a corrente do Romantismo marca, neste aspecto,
uma etapa importante, levando a paisagem para dentro da própria obra literária. A
fruição física e anímica da paisagem, de certos locais (destes locais do religioso)
foi intencionalmente buscada e procurada. Como exemplo, dos estrangeiros, cite-se
por todos, W. Beckford ou Lady Jackson e dos nacionais, Camilo (com as suas
romagens ao Bom Jesus do Monte). Seria, porém, imprudente negar por completo
ao romeiro de antanho (a sua diversidade era, aliás, muito grande), essa vertente.
O impacto, o lenitivo, a sublimação que o enlevo físico sempre representava face
ao cansaço da “paisagem” do quotidiano estiveram sempre naturalmente presentes.
Sempre, seguramente, mais um pretexto de louvar e enaltecer o Criador. Todavia,
a enorme simbologia das alturas (das montanhas e colinas, como do lugar ermo e
deserto) era sem, dúvida, o apelativo principal do romeiro e devoto de então. (E
este aspecto não se perdeu no romeiro, hoje seja ele crente, seja ateu o incrédulo.
(Mais uma vez, se pode remeter para Camilo).
É nossa intenção fazer uma reconstituição histórica dos centros devocionais
de romagem (como das feiras coincidentes) para o conjunto da Província do
Entre Douro e Minho a meados do Século XVIII, dando conta do que persiste
ou se reforçou e do que se perdeu e apagou. Conhecer ou reviver (e aproveitar) a
realidade histórica e socio-cultural daqueles tempos (como até da sua importância
económica no seio das sociedades locais quando, por ventura, tenham coincidido
com as feiras ou grandes feiras anuais, a que alguns centros de romagem deram
origem ou alimentaram), constitui hoje uma dimensão importante. Dada largueza
desse projecto de trabalho, ficar-nos-emos, aqui, pela realidade concelhia de Ponte
do Lima e dos Arcos e Valdevez.
Description
Keywords
Tradição; festas populares;
Citation
Dinâmicas de Rede no Turismo Cultural e Religioso. Maia: Edições ISMAI, 2010, vol. II, p. 277-293.
Publisher
Edições ISMAI e CEDTUR-Edita