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Histórias e trajectórias de consumidores ‘não problemáticos’ de drogas ilícitas

dc.contributor.authorCruz, Olga
dc.date.accessioned2014-12-14T14:24:46Z
dc.date.available2014-12-14T14:24:46Z
dc.date.issued2011
dc.description.abstractO objectivo central desta investigação é construir, indutivamente, um modelo teórico para compreender de que modo certos utilizadores de drogas ilícitas conseguem manter os seus consumos „não problemáticos‟. Com este estudo pretende contribuir-se para uma intervenção mais efectiva na minimização de padrões „problemáticos‟ e para um debate mais complexo sobre o fenómeno, reconhecendo a multiplicidade de tipos de consumos e de consumidores. Tais propósitos, aliados ao parco conhecimento sobre utilizações „não problemáticas‟ e ao carácter frequentemente „oculto‟ dos seus protagonistas, justificam a opção por um design de investigação qualitativo. Começaram por se realizar entrevistas em profundidade a uma amostra intencional, diferenciando-se três grupos de consumidores: „não problemáticos‟ (n=9), „exproblemáticos‟ (n=6) e „problemáticos‟ (n=6). Com base nos resultados do primeiro grupo construiu-se uma primeira versão da referida teoria, que foi, depois, enriquecida e validada através de uma nova consulta a estes participantes e da triangulação de fontes (entrevistas com outros grupos) e de metodologias (observação directa em contexto natural do uso de substâncias psicoactivas). O acesso aos sujeitos foi conseguido com uma estratégia do tipo snowball, tendo-se partido de informantes privilegiados. A análise dos dados baseou-se nas propostas da grounded analysis (Glaser & Strauss, 1967; Strauss & Corbin, 1990/1998). O material empírico obtido com as entrevistas aos três grupos e com a observação é amplamente congruente entre si. Sucintamente, a sua integração sugere que os consumos tendem a iniciar-se pela curiosidade sobre as drogas e pelas vivências com consumidores, sobretudo por estes facilitarem o acesso às substâncias. Tal iniciação tende a ocorrer com a cannabis, seguindo-se um período, mais ou menos longo, de experimentação de outras drogas ilegais, sobretudo estimulantes e alucinogéneos. De acordo com os resultados, a manutenção de um consumo „não problemático‟ implica um processo constante de auto-regulação do uso das drogas que é informado, desde logo, por características dos consumidores, como a sua capacidade de auto-controlo. É-o também pela qualidade das experiências de consumo, já que os indivíduos vão moldando a utilização das drogas em função delas. Em concreto, as experiências positivas, que proporcionam prazer e que são as mais comuns, contribuem para a sua manutenção. Os aspectos negativos experienciados com certas substâncias, apesar de insuficientes para a cessação dos consumos, contribuem para a sua adaptação, num esforço de os evitar. Finalmente, algumas experiências realmente negativas com o uso de certas drogas, ainda que mais raras, fazem com que aquelas não voltem a ser usadas. Tal processo de auto-regulação é ainda informado pelas vivências com outros consumidores, pois operam como importantes meios de aprendizagem sobre as drogas. Além disso, envolve a ponderação constante da relação entre os custos e os benefícios desta prática, o desenvolvimento de concepções de risco e, em função destas, a adopção de cuidados de gestão dos consumos, ainda que, muitas vezes, de uma forma não conscientemente pensada nem aplicada. Realçam-se os cuidados que se referem ao tipo de substâncias usadas e à regularidade da sua utilização, pois é em torno destes que tende a definir-se o padrão de consumo actual. Este padrão, que tende a perdurar alguns anos e a não ser algo fugaz, envolve, em geral, o uso regular de canabinóides e a utilização apenas ocasional de todas as outras drogas ilícitas, sobretudo estimulantes. Na nossa amostra, estes e outros cuidados são desenvolvidos com o intuito de manter a funcionalidade nas várias áreas de vida, o que envolve três sub-objectivos: (i) controlar o consumo (através de cuidados relacionados com o tipo de drogas usadas, a regularidade e frequência dos consumos e os seus contextos e circunstâncias); (ii) preservar a imagem social e evitar o estigma (mediante cuidados relativos à ocultação do uso de drogas, à gestão da sua aquisição e aos contextos e circunstâncias do consumo); e (iii) obter efeitos positivos e evitar experiências desagradáveis (a partir de cuidados associados às quantidades e ao tipo de substâncias usadas, aos contextos e circunstâncias dos consumos e às vivências com outros consumidores). Em conclusão, este trabalho revela a necessidade de encarar o consumo de drogas ilegais em toda a sua complexidade e como um contínuo, desde um pólo „problemático‟ a outro „não problemático‟. Sugere, também, a relevância de aprender com este último tipo de experiências, de modo a potenciar consumos „responsáveis‟ e a minorar padrões „problemáticos‟. Além disso, aponta para a importância de promover estratégias de gestão dos prazeres e dos riscos, e de agir, inclusive através de pares, para estimular o envolvimento dos consumidores nos esforços interventivos e a concretização de um trabalho horizontal, dinâmico e em contexto natural.por
dc.identifier.urihttp://hdl.handle.net/10400.24/214
dc.language.isoporpor
dc.peerreviewedyespor
dc.publisherUniversidade do Minhopor
dc.relation.publisherversionhttp://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/13736/1/Olga%20Furriel%20de%20Souza%20Cruz.pdfpor
dc.titleHistórias e trajectórias de consumidores ‘não problemáticos’ de drogas ilícitaspor
dc.typedoctoral thesis
dspace.entity.typePublication
oaire.citation.conferencePlaceBragapor
oaire.citation.titleTese de Doutoramento em Psicologiapor
rcaap.rightsopenAccesspor
rcaap.typedoctoralThesispor

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